quarta-feira, julho 26, 2006

Sobre perder o fôlego

Revi Brilho eterno de uma mente sem lembranças hoje. Ao contrário dos filmes simples, que a gente revê e já não se surpreende, ou não gosta tanto, esse filme se torna mais tocante a cada vez que assisto. Pode ser falsa impressão de quem tem memória emocional curta, não sei. Mas me sinto cada vez mais íntima dos personagens, como se eles ficassem mais à vontade e falassem de coisas mais íntimas a cada reencontro. E me dentifico cada vez mais com suas falas, e com as situações que eles vivem. Com o tempo as lembranças deles se misturam com as minhas, e o que eu vi no filme parece que aconteceu na minha vida, e tudo o que a Clementine fala poderia ter saído da minha boca.
A história de Joel e Clementine, simples, resumida nos detalhes mais especiais e confusos na memória dele é arrebatadora. É dessas coisas que fazem a gente suspirar, virar os olhos, rir de nervoso e querer chorar compulsivamente, mesmo que as lágrimas acabem não descendo. No fim das contas, a fruição é contida. O roteiro do genial Kaufman te leva à beirada do penhasco e rapidamente recoloca tudo ao nível do mar. Você fica meio ofegante, a adrenalina sobe, a ansiosidade é incontrolável.
Como sempre, o filme termina e eu fico inconformada com a idéia de não estar apaixonada por ninguém. Não consigo aceitar o fato de não ter alguém pra idolatrar, pra desvendar, pra conhecer, pra ficar com o olhar perdido e o sorriso dormente, pra achar que agora é a pessoa certa. Não é de um relacionamento que eu sinto falta. Estou solteira há relativamente pouco tempo e tenho aproveitado tantas coisas que agora pedem pra ser feitas solo, que nem me imagino encaixando um namorado (ou o que quer que fosse) nas horas insuficientes dos meus dias. Não, eu sinto falta de outra coisa. Muito mais significativa que o relacionamento, a pessoa. Não da pessoa aqui do meu lado, mas da pessoa em si, da existência dela.
Sinto muita falta de visualisar um rosto no qual possa projetar os sentimentos mais estonteantes. Me faz falta aquele nome que faz tremer as pernas, aquelas mãos por quem seus braços ficam angustiados pra serem tocados, aqueles olhos que te levam à Lua. Tudo isso é estúpido, eu sei, mas não é a estupidez tão próxima da simplicidade que pode ser um caminho saudável até a satisfação? Quando você está apaixonado, isso basta. A pessoa não tem que se provar, não tem que ser extremamente inteligente, ou charmosa, ou bem-sucedida... qualquer fragmento de interesse se transforma em encanto.
O filme não mostra quase nada sobre o dia-a-dia de Joel e Clem, não fala sobre o funcionar do seu relacionamento. Mas ele resume muito bem aquilo de que eu mais sinto falta, a maneira como você se envolve com alguém que acabou de conhecer e que é um estímulo, um objetivo, um inebriante. Fala sobre apegar-se. Outro dia, num outro filme, uma personagem melodramática falou sobre o momento em que a gente se apega a alguém. Esse momento é o melhor de todos, é o detalhe que faz toda a diferença.
É tão bom encontrar alguém de quem você não quer sair de perto antes de se tornar o mais íntimo possível, porque você se sente completo, não pela pessoa, mas pela situação de estar com ela. O lugar certo, "exactly were I want to be", como diz Joel.
Não quero falar sobre o roteiro fantásticamente bem estruturado de Kaufman, nem sobre os diálogos e as situações de extremo bom gosto, nem sobre a edição interessantíssima, nem sobre a câmera confusa ou a trilha sonora envolvente. Também não vou falar hoje sobre como me entendo cada vez mais como a Clementine, como me vejo falando as coisas que ela pensa e como reconheço as minhas idéias sendo formuladas por ela.
Porque por mais que essas coisas me impressionem no filme e me façam achá-lo ainda melhor, o fato é que eu termino de assistir e não consigo pensar em outra coisa, senão o quanto eu gostaria de viver aquilo. Não todo o enredo doentio, mas aquilo que acontece entre eles, e que já aconteceu comigo umas tantas vezes. De estar com alguém na primeira noite, ou na primeira semana juntos, e se sentir flutuando. De ter certeza de que não poderia estar fazendo nada mais agradável do que estar ali com aquela pessoa, e de que se o sorriso continuar tão comprido, aboca vai ficar dolorida. De se olhar e se olhar e ficar imaginando como vai ser o beijo, depois como vai ser o sexo, depois como vai ser a vida.

quarta-feira, julho 12, 2006

De corpo presente, apenas

Voltei pra casa. Pelo menos teoricamente. Hoje é quarta feira, e eu cheguei segunda de manhã. Mas ainda não me sinto de volta. Continuo pensando nas pessoas que conheci em Brasília, continuo conversando com elas ou sobre elas. Meu apartamento parece devastado por um ataque de bestas enfurecidas. Continuo comendo um monte de besteiras, sem horário pra nada. Acordo e vou pra faculdade como se fosse uma novidade completa. Não consigo ficar quieta na sala. Em casa, também não tenho concentração pra quase nada sério.
Como esperado, conheci muita gente em Brasília. Me envolvi com uma porção de coisas, dormi pouquíssimo, dei vários nós no meu espírito.
Das discussões sobre design, tirei a melhor conclusão possível, de que fiz a escolha certa. Sozinha, de ressaca, numa palestra na quinta feira de manhã, tive um insight. Definiram o designer como um solucionador de problemas. Sim, eu já tinha escutado essa antes, mas ali, naquela hora, me dei conta de que era isso que me garantiria ser boa. Porque eu sempre tive crises por não me achar criativa suficiente pra começar coisas fantásticas do zero, como um artista, sempre me frustrei por só ter boas idéias a partir de outras já existentes. Mas o designer não tem que começar nada do zero. O designer está lá para observar o problema e sulucioná-lo, ou seja, ele tem um ponto de partida bem específico. e isso eu sei que faço muito bem. Talvez essa questão nem deveria entrar aqui, ela merece ser melhor elaborada em um espaço próprio, certamente, mas fica aqui pra compor o quadro da minha satifação Ndesigniana.
E como eu dizia antes, não foi só a questionamentos sobre a profissão que o Ndesign se prestou. Provavelmente essa nem foi a parte mais importante e certamente, numa interpretação imediatista, não foi a parte mais marcante. O que eternizou mesmo, como a gente fala, foram as pessoas. Sim, eu fui querendo conhecer gente, gente, muita gente, e foi o que encontrei.
Consegui encontrar quase todas as pessoas com quem falava antes, e fiquei amiga de alguns. Através deles, conheci outros e tantos outros! De fato, nas atividades do evento ficava fácil conhecer gente, mesmo sem que ninguém apresentasse. Fiz ótimos amigos, por coincidência também cariocas, por causa de uma oficina. Conheci uma galera muito animada nas festas. E também gente muito doida nas rodinhas de violão. Qualquer fila (e rolaram várias) era um bom momento pra se fazer amigos.
Pra fechar, conheci uma banda muito boa na última festa, se chama Móveis Coloniais de Acaju, e é de Brasília mesmo. Amei o som dos caras, me empolguei demais, sozinha lá na frente, comprei o cd e pedi autógrafos. Já ouvi o cd umas 10 vezes depois de ter chegado no Rio. e estou ansiosa pelo show dia 3, no Odisséia.
O Ndesign "eternizou" tanto que eu ainda não estou conseguindo pensar direito, nem falar claramente a respeito. Ainda não consegui acordar nem dormir sem estranhar o quarto, ainda que muito mais confortável que a barraca do alojamento. Muita coisa aconteceu e as lebranças vêm vindo em flashes. Meu MSN não pára.
Estive elétrica, deslumbrada, exausta, prestes a me apaixonar, ainda mais exausta e deslumbrada, com uma sede sem limites naquela cidade desértica, completamente absorta pelos acontecimentos do evento, mergulhando de cabeça naquele mar de gente, muita gente.
Tenho que começar a voltar pra casa essa semana. Voltar a ouvir outros cds além de móveis, falar com gente que não tenha nada a ver com design, sobre assuntos que não envolvam o N, voltar a ler meus livros, a estudar francês, a pensar na minha vida por aqui. E assimilar tudo o que eu adquiri em Brasília, os amigos pra conversar e sair, a banda pra ouvir e tietar, uma consciência muito mais sólida sobre minha profissão, as experimentações estéticas, os questionamentos políticos, etc etc. Me senti no lugar certo, fazendo a coisa certa. E com as pessoas certas, óbvio.
O N ainda vai render muito assunto, sem dúvidas. E ano que vem, tem R no Rio e N em Floripa, mal posso esperar...
E segue assim... o assunto se enrola e não conclui. Porque o N não é pra concluir mesmo, a gente voltou de Brasília, mas todo o resto continua fluindo. Essa vida é fluxo e eu me sinto completamente na maré. Tudo fugiu do meu controle na semana passada e agora eu continuo flutuando. Não quero esquecer de nada, queria poder tirar fotos orgânicas pra estar de novo nas situações mais importantes. A bebedeira, a festa, a arquibancada, a oficina, a batucada, o auditório, a barraca, a fogueira, a roda, o carro... Tanta coisa cheia de significado. Eternizou, mesmo. E não pára só porque a gente voltou. Acho que esse N não vai acabar nunca. Pelo menos enquanto durar esse estado de espírito.