Do amor de outros tempos
Depois de ter visto o filme e ter lido o livro mais de uma vez, assisti finalmente à adaptação de Orgulho e Preconceito produzida em 1995 pela BBC. Não pretendo falar aqui sobre a obra de Jane Austen, tampouco sobre suas adaptações, talvez num outro dia. O que me tomou a mente hoje foi uma reflexão sobre a maneira como se vive o amor em diferentes épocas.
De virgens de um não distante século XIX para meninas talvez exageradamente apressadas de hoje. Idem quanto aos rapazes, obviamente. Não é meu intuito redigir um elogio à moral e aos bons costumes, de maneira alguma. Nem seria tola a ponto de me basear em falsos pressupostos históricos e acreditar que o mundo caminhou para uma promiscuidade sem fim. Mas acho que alguma coisa mudou, sim, talvez não nos desejos, mas na velocidade com que são concretizados.
Pelas descrições de Jane Austen, nascida em 1775, que publicou o romance em questão em 1813, podemos concluir que os costumes da época tornavam os envolvimentos amorosos (como todo o resto) muito mais prolongados. Obviamente, a relação de Elizabeth e Mr. Darcy é idealizada e poucas moças tinham o privilégio de se casarem com os homens por quem se apaixonavam, como as irmãs Bennet. Mas não cheguei ainda no ponto que me interessa.
Apaixonados ou não, o fato é que os casais se formavam e levavam séculos até se beijarem. Na verdade, um simples olhar atencioso enrubescia as faces de qualquer moça respeitável e o toque das mãos sem luvas era um contato físico ansiosamente esperado. Um beijo nos lábios, portanto, talvez conquistado apenas no momento do matrimônio, devia ser causa de frisson, pernas bambas e tudo o mais. E aí começa meu questionamento.
O quão delicioso deveria ser um beijo naquela época? Imagine a noite de núpcias, todo o nervosismo e ansiedade. Lógico que a maioria das moças devia casar-se com homens feios, velhos e por quem não tivessem a menor afeição... mas numa época em que as moças já eram pedidas em casamento e não mais obrigadas por seus pais, a situação nem sempre devia ser tão abominável. Tenho até a pretensão de imaginar que um número razoável de jovens deveriam encontrar parceiros interessantes, afinal, em qualquer sociedade sempre há gente atraente e charmosa, não?
E penso em o quanto poderíamos aprender com aquelas moças recatadas, que sentiam a maior das felicidades ao serem cortejadas por rapazes apaixonáveis... Porque hoje tudo tornou-se tão fácil, talvez tão banal, que talvez não demos o devido valor...
Sou, sim, favorável à liberdade no comportamento de todas as criaturas, principalmente no que diz respeito ao amor. Eu mesma sofreria muito se certas atitudes não tivessem espaço em nossa sociedade, e acho que todos temos o direito de fazer com nossos corpos tudo aquilo que desejamos, com quem e quando quisermos. Só chamo a atenção para a irracionalização extrema dos comportamentos. Eu sei que o amor e o sexo de racional não têm nada, mas nós seres humanos, não podemos nos privar da capacidade de pensar... e talvez um pouco mais de ponderação sobre como lidamos com certas situações nos leve a resultados interessantes.
Porque às vezes, depois de uma noite na boate, depois de beijar algumas pessoas desconhecidas, ou depois de muito suor num quarto de motel, nos sentimos descartáveis. Você sabe que sim, eu sei que sim, e não falo só por mim, mas por todas as pessoas que já concordaram comigo... às vezes nos olhamos no espelho do banheiro vomitado ou até num espelho no teto e nos perguntamos o que estamos fazendo. Talvez a culpa seja nossa mesma, e da banalização com que lidamos com nossos instintos. Tudo é fácil demais, rápido demais, tratamos as relações como se o sexo fosse algo simples.
Nada é simples. Envolva ou não amor, sexo é troca, é entregar-se, é o máximo de intimidade física que chegamos com alguém (nisso excluo anomalias sádicas e escatológicas). E é sim, pra se fazer a big deal. E tem tanta coisa que vem antes do sexo, o olhar, o beijo, todas aquelas preliminares... porque nos deixamos esquecer dessas coisas às vezes, porque deixamos de dar-lhes a devida importância?
Me lembro de quando eu tinha 14, 15 anos. Quando cada noite com meu namorado era uma novidade, um passo a frente, e cada novidade era apreciada como o prato principal. Às vezes tenho vontade de voltar a me sentir como nesses dias. Talvez com 15 anos, eu estivesse muito mais próxima das irmãs Bennet, descobrindo aos poucos o que seria o amor, fisicamente. E muito provavelmente surpreendendo-me a cada avanço...
Não prego o recato, nunca levantaria uma bandeira para defender a castidade antes do casamento nem nada parecido. Sou a favor da diversidade e do prazer maior, acho que devemos desfrutar ao máximo de todos os prazeres que a vida nos oferece. Só chamo a atenção para que não banalizemos aquilo que deve ser muito valorizado. Sim, sexo é ótimo, mas não isso desmerece um beijo bem dado. Acho que às vezes um olhar devidamente direcionado, no momento adequado, pode causar mais adrenalina do que uma transa fácil e sem sentido. Sentido não é necessariamente sentimento, que fique claro! Falo de sentido como sinônimo de intensidade, de desejo real, de integração, de clic.
Estar com alguém tem que ser pelo alguém, não pelo estar. O que se faz é muito menos importante do que com quem se faz, como se faz e o que se sente. Alguns beijos no cinema podem ser mais emocionantes do que uma noite de sexo no motel, o que conta é o envolvimento com aquele (ou aquela, ou aqueles, que seja...) com quem se está.
Eu acho, pelo menos. Não sei se um dia vou encontrar um Mr. Darcy. Mas se encontar, quero aproveitar devidamente cada parcela de intimidade antes do clímax. Queimar etapas não me parece mais muito vantajoso.
Depois de ter visto o filme e ter lido o livro mais de uma vez, assisti finalmente à adaptação de Orgulho e Preconceito produzida em 1995 pela BBC. Não pretendo falar aqui sobre a obra de Jane Austen, tampouco sobre suas adaptações, talvez num outro dia. O que me tomou a mente hoje foi uma reflexão sobre a maneira como se vive o amor em diferentes épocas.
De virgens de um não distante século XIX para meninas talvez exageradamente apressadas de hoje. Idem quanto aos rapazes, obviamente. Não é meu intuito redigir um elogio à moral e aos bons costumes, de maneira alguma. Nem seria tola a ponto de me basear em falsos pressupostos históricos e acreditar que o mundo caminhou para uma promiscuidade sem fim. Mas acho que alguma coisa mudou, sim, talvez não nos desejos, mas na velocidade com que são concretizados.
Pelas descrições de Jane Austen, nascida em 1775, que publicou o romance em questão em 1813, podemos concluir que os costumes da época tornavam os envolvimentos amorosos (como todo o resto) muito mais prolongados. Obviamente, a relação de Elizabeth e Mr. Darcy é idealizada e poucas moças tinham o privilégio de se casarem com os homens por quem se apaixonavam, como as irmãs Bennet. Mas não cheguei ainda no ponto que me interessa.
Apaixonados ou não, o fato é que os casais se formavam e levavam séculos até se beijarem. Na verdade, um simples olhar atencioso enrubescia as faces de qualquer moça respeitável e o toque das mãos sem luvas era um contato físico ansiosamente esperado. Um beijo nos lábios, portanto, talvez conquistado apenas no momento do matrimônio, devia ser causa de frisson, pernas bambas e tudo o mais. E aí começa meu questionamento.
O quão delicioso deveria ser um beijo naquela época? Imagine a noite de núpcias, todo o nervosismo e ansiedade. Lógico que a maioria das moças devia casar-se com homens feios, velhos e por quem não tivessem a menor afeição... mas numa época em que as moças já eram pedidas em casamento e não mais obrigadas por seus pais, a situação nem sempre devia ser tão abominável. Tenho até a pretensão de imaginar que um número razoável de jovens deveriam encontrar parceiros interessantes, afinal, em qualquer sociedade sempre há gente atraente e charmosa, não?
E penso em o quanto poderíamos aprender com aquelas moças recatadas, que sentiam a maior das felicidades ao serem cortejadas por rapazes apaixonáveis... Porque hoje tudo tornou-se tão fácil, talvez tão banal, que talvez não demos o devido valor...
Sou, sim, favorável à liberdade no comportamento de todas as criaturas, principalmente no que diz respeito ao amor. Eu mesma sofreria muito se certas atitudes não tivessem espaço em nossa sociedade, e acho que todos temos o direito de fazer com nossos corpos tudo aquilo que desejamos, com quem e quando quisermos. Só chamo a atenção para a irracionalização extrema dos comportamentos. Eu sei que o amor e o sexo de racional não têm nada, mas nós seres humanos, não podemos nos privar da capacidade de pensar... e talvez um pouco mais de ponderação sobre como lidamos com certas situações nos leve a resultados interessantes.
Porque às vezes, depois de uma noite na boate, depois de beijar algumas pessoas desconhecidas, ou depois de muito suor num quarto de motel, nos sentimos descartáveis. Você sabe que sim, eu sei que sim, e não falo só por mim, mas por todas as pessoas que já concordaram comigo... às vezes nos olhamos no espelho do banheiro vomitado ou até num espelho no teto e nos perguntamos o que estamos fazendo. Talvez a culpa seja nossa mesma, e da banalização com que lidamos com nossos instintos. Tudo é fácil demais, rápido demais, tratamos as relações como se o sexo fosse algo simples.
Nada é simples. Envolva ou não amor, sexo é troca, é entregar-se, é o máximo de intimidade física que chegamos com alguém (nisso excluo anomalias sádicas e escatológicas). E é sim, pra se fazer a big deal. E tem tanta coisa que vem antes do sexo, o olhar, o beijo, todas aquelas preliminares... porque nos deixamos esquecer dessas coisas às vezes, porque deixamos de dar-lhes a devida importância?
Me lembro de quando eu tinha 14, 15 anos. Quando cada noite com meu namorado era uma novidade, um passo a frente, e cada novidade era apreciada como o prato principal. Às vezes tenho vontade de voltar a me sentir como nesses dias. Talvez com 15 anos, eu estivesse muito mais próxima das irmãs Bennet, descobrindo aos poucos o que seria o amor, fisicamente. E muito provavelmente surpreendendo-me a cada avanço...
Não prego o recato, nunca levantaria uma bandeira para defender a castidade antes do casamento nem nada parecido. Sou a favor da diversidade e do prazer maior, acho que devemos desfrutar ao máximo de todos os prazeres que a vida nos oferece. Só chamo a atenção para que não banalizemos aquilo que deve ser muito valorizado. Sim, sexo é ótimo, mas não isso desmerece um beijo bem dado. Acho que às vezes um olhar devidamente direcionado, no momento adequado, pode causar mais adrenalina do que uma transa fácil e sem sentido. Sentido não é necessariamente sentimento, que fique claro! Falo de sentido como sinônimo de intensidade, de desejo real, de integração, de clic.
Estar com alguém tem que ser pelo alguém, não pelo estar. O que se faz é muito menos importante do que com quem se faz, como se faz e o que se sente. Alguns beijos no cinema podem ser mais emocionantes do que uma noite de sexo no motel, o que conta é o envolvimento com aquele (ou aquela, ou aqueles, que seja...) com quem se está.
Eu acho, pelo menos. Não sei se um dia vou encontrar um Mr. Darcy. Mas se encontar, quero aproveitar devidamente cada parcela de intimidade antes do clímax. Queimar etapas não me parece mais muito vantajoso.

1 Comments:
Seu texto é muito grande e eu estou com muito sono. Não dá certo combinar os dois juntos. Juro que lerei outra hora. Mas por agora, despeço-me sem nenhum comentário interessante; apenas o básico. AMO VOCÊÊÊÊ... eee!! :):)
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