Personagens palpáveis e apaixonantes, admito
Ontem, graças a mais uma agradável suspresa do ato de zapear na TV a cabo, assisiti ao filme Hora de Voltar (Garden State) de Zach Braff, que também assina o roteiro e o protagoniza. Andrew Largeman é um personagem auto-biográfico, segundo li em algum lugar. Não me interessa verificar se essa iformação procede.
A meu ver, todo e qualquer personagem é uma projeção de seu autor, assim como o antagoniza; é reflexo de suas experiências, refração de pessoas que ele conhece ou idealiza. Assim, em diferentes graus e formas, toda ficção faz referência à realidade, afinal, arte é expressão da subjetividade, e o que é a subjetividade senão a realidade processada pelos olhos e sentimentos de alguém?
O que me interessa é que Andrew Largeman me parece incrivelmente real. Vi o filme uma vez apenas, sem os quinze minutos iniciais (e geralmente essenciais). Não estou em condições de falar muito profundamente sobre nada, mas não posso evitar comentar o quanto esse personagem me comoveu.
Preso a não sei quantos traumas e restrições que lhe foram impostos por seu pai, psiquiatra, por sua mãe, depressiva, pelos acontecimentos crueis, de sua infância, Andrew volta a sua cidade natal e não tem muito a mostrar a seus antigos conhecidos além de um homem contido, tímido, travado e com uma enorme dificuldade de extravasar seus sentimentos. Ele não ri muito alto, não grita, não chora, não faz nada muito especial nunca. Como ele mesmo declara, passou muito tempo de sua vida dopado por medicamentos receitados pelo próprio pai. Mesmo depois de largar os remédios, Andrew parece estar sempre dopado.
Esse homem frágil, talvez fraco, inseguro, incerto, tantas vezes desajeitado, me comoveu muito. Porque me pareceu real. Me pareceu que eu o conhecia, ou que estava conhecendo, que o filme me colocava diante de alguém de verdade. Não digo o mesmo de todos os personagens, muito menos de todas as situações. Gosto da Natalie Portman, mas sua garotinha-maluca-super-espontânea todo mundo está cansado de ver nas telas, mas não encontra nunca por aqui. E os amigos, drogados e sem ambições ou perspectivas, completamente protagonistas, também não me dizem muita coisa além do básico, quer dizer, cumprem seu papel na trama, mas sem nenhum brilhantismo que me tenha tocado. Mas Andrew não.
Andrew me parece um pouco de mim, um pouco de algumas pessoas que conheço, ou mesmo que não parecesse com ninguém, ele me parece verossímil. Porque é espirituoso quando a situação lhe permite, e gagueja quando não pode evitar; raciocina sem a perfeição dos gênios ensaiados, mas com a impulsividade e a insegurança equilibradas de uma pessoa média. Suas atitudes e reações fazem sentido, suas declarações e reflexões são plausíveis.
E como projeção nesse mundo não fictício em que somos obrigados a viver, ele cativou meu afeto. Sei que Andrew não é real, mas qual a difereça entre relacionar-se com um personagem cinematográfico ou internético, por exemplo? A resposta? Em uma hora e meia de filme, Andrew me falou muito mais coisas do que vários dos meus contatos do orkut ou do msn. Não foi para mim que ele disse? E não é para o público que fala o roteirista por trás do personagem? Aquilo que alguém me diz em meu scraapbook é, mesmo um recado pra mim?
Personagens assim criam vínculos, do tipo que me fazem sonhar com eles e ter a sensação de que os conheço. De pensar em uma música ou uma piada que o agradaria, de ter vontade de dedicar-lhe um poema, de oferecer-lhe um livro, de querer sair com ele para tomar um chope.
Andrew Largeman poderia ser um amigo que não vejo há algum tempo. Sinto que o conheço, que sei tanto sobre ele e sobre sua vida quanto sobre uns tantos amigos nem tão próximos, nem tão distantes. Ele poderia ser aquele cara que eu conheci numa viagem e que provavelmente nunca reverei, mas de quem me lembro vivamente em certas situações. E ele me toca tanto quanto tantas dessas pessoas, personagens transitórios de minha vida. Gente de quem não me lembro o nome, mas lembro das frases, dos diálogos detalhadamente.
É provável e até urgente que eu reveja o filme. Não sei se continuarei sentindo as mesmas coisas. Talvez eu volte e escreva algo sobre a produção em si, sobre o roteiro comovente ou sobre as frases elaboradas e espirituosas. Talvez eu guarde pra mim as próximas reflexões. Mas o que senti por Andrew acho difícil que mude. Sinto como se o conhecesse e ele é alguém que prezo. e quando se tem apreço por alguém, só o próprio pode fazer algo que mude, coisa que Andrew não poderá fazer.
Ontem, graças a mais uma agradável suspresa do ato de zapear na TV a cabo, assisiti ao filme Hora de Voltar (Garden State) de Zach Braff, que também assina o roteiro e o protagoniza. Andrew Largeman é um personagem auto-biográfico, segundo li em algum lugar. Não me interessa verificar se essa iformação procede.
A meu ver, todo e qualquer personagem é uma projeção de seu autor, assim como o antagoniza; é reflexo de suas experiências, refração de pessoas que ele conhece ou idealiza. Assim, em diferentes graus e formas, toda ficção faz referência à realidade, afinal, arte é expressão da subjetividade, e o que é a subjetividade senão a realidade processada pelos olhos e sentimentos de alguém?
O que me interessa é que Andrew Largeman me parece incrivelmente real. Vi o filme uma vez apenas, sem os quinze minutos iniciais (e geralmente essenciais). Não estou em condições de falar muito profundamente sobre nada, mas não posso evitar comentar o quanto esse personagem me comoveu.
Preso a não sei quantos traumas e restrições que lhe foram impostos por seu pai, psiquiatra, por sua mãe, depressiva, pelos acontecimentos crueis, de sua infância, Andrew volta a sua cidade natal e não tem muito a mostrar a seus antigos conhecidos além de um homem contido, tímido, travado e com uma enorme dificuldade de extravasar seus sentimentos. Ele não ri muito alto, não grita, não chora, não faz nada muito especial nunca. Como ele mesmo declara, passou muito tempo de sua vida dopado por medicamentos receitados pelo próprio pai. Mesmo depois de largar os remédios, Andrew parece estar sempre dopado.
Esse homem frágil, talvez fraco, inseguro, incerto, tantas vezes desajeitado, me comoveu muito. Porque me pareceu real. Me pareceu que eu o conhecia, ou que estava conhecendo, que o filme me colocava diante de alguém de verdade. Não digo o mesmo de todos os personagens, muito menos de todas as situações. Gosto da Natalie Portman, mas sua garotinha-maluca-super-espontânea todo mundo está cansado de ver nas telas, mas não encontra nunca por aqui. E os amigos, drogados e sem ambições ou perspectivas, completamente protagonistas, também não me dizem muita coisa além do básico, quer dizer, cumprem seu papel na trama, mas sem nenhum brilhantismo que me tenha tocado. Mas Andrew não.
Andrew me parece um pouco de mim, um pouco de algumas pessoas que conheço, ou mesmo que não parecesse com ninguém, ele me parece verossímil. Porque é espirituoso quando a situação lhe permite, e gagueja quando não pode evitar; raciocina sem a perfeição dos gênios ensaiados, mas com a impulsividade e a insegurança equilibradas de uma pessoa média. Suas atitudes e reações fazem sentido, suas declarações e reflexões são plausíveis.
E como projeção nesse mundo não fictício em que somos obrigados a viver, ele cativou meu afeto. Sei que Andrew não é real, mas qual a difereça entre relacionar-se com um personagem cinematográfico ou internético, por exemplo? A resposta? Em uma hora e meia de filme, Andrew me falou muito mais coisas do que vários dos meus contatos do orkut ou do msn. Não foi para mim que ele disse? E não é para o público que fala o roteirista por trás do personagem? Aquilo que alguém me diz em meu scraapbook é, mesmo um recado pra mim?
Personagens assim criam vínculos, do tipo que me fazem sonhar com eles e ter a sensação de que os conheço. De pensar em uma música ou uma piada que o agradaria, de ter vontade de dedicar-lhe um poema, de oferecer-lhe um livro, de querer sair com ele para tomar um chope.
Andrew Largeman poderia ser um amigo que não vejo há algum tempo. Sinto que o conheço, que sei tanto sobre ele e sobre sua vida quanto sobre uns tantos amigos nem tão próximos, nem tão distantes. Ele poderia ser aquele cara que eu conheci numa viagem e que provavelmente nunca reverei, mas de quem me lembro vivamente em certas situações. E ele me toca tanto quanto tantas dessas pessoas, personagens transitórios de minha vida. Gente de quem não me lembro o nome, mas lembro das frases, dos diálogos detalhadamente.
É provável e até urgente que eu reveja o filme. Não sei se continuarei sentindo as mesmas coisas. Talvez eu volte e escreva algo sobre a produção em si, sobre o roteiro comovente ou sobre as frases elaboradas e espirituosas. Talvez eu guarde pra mim as próximas reflexões. Mas o que senti por Andrew acho difícil que mude. Sinto como se o conhecesse e ele é alguém que prezo. e quando se tem apreço por alguém, só o próprio pode fazer algo que mude, coisa que Andrew não poderá fazer.

1 Comments:
Concordo com vc, o pq do filme ser tão bom, acho que vem do fato de que pelo menos uma vez, a algum de nos já se sentir na cituação do andrew ou sam, isso e o que torna o filme verdadeiro, msm com aquela famosa historia de amor, o filme se salva dos cliches pela honestidade.
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