Gente, gente, muita genteAmanhã vou pra Brasília. Encontro nacional dos estudantes de design: o N design. Estou quase quicando de ansiedade. Sairemos num ônibus amanhã à tarde, uns vinte e tantos estudantes da Esdi com mais alguns não sei quantos da PUC. Chegaremos em Brasília sábado pela manhã. Bêbados, provavelmente, talvez já de ressaca. É a primeira vez que viajo num evento desses. Mesmo com o colégio, há alguns bons anos, quando a gente viajava tinha sempreum monte de gente "responsável" em volta, éramos muito menores de idade pra fazer coisas muito interessantes... e os números de participantes nunca eram muito altos.Em brasília, seremos mais de 2000 pessoas, todos estudantes universitários, e o melhor, todos designers. No mundo inteiro existe uma porcentagem de pessoas desinteressantes, até desagradáveis, mas quando falamos de um monte de gente que estuda a mesma coisa que você, e quando esse curso é realmente legal, o provável é que as porcentagens sejam muito favoráveis às criaturas gostáveis. Gente simpática, gente desregulada, gente muito animada, gente inteligente, gente criativa, gente de todas as formas possíveis desejáveis de se conhecer, todo mundo lá, reunidos num alojamento gigantesco. Gente, gente, muita gente.Tínhamos duas opções de estadia promovidas pelo evento: beliches, separadas em alas masculinas e femininas, ou um grande ginásio para barracas e colchonetes. Barraca foi a escolha da mairia dos que conheço. Um acampamento gigante de designers agitados.Espero fazer o maior número de contatos e amizades possível. Espero acordar para as palestras e oficinas, e ficar de pé para todas as festas. Espero que ninguém vomite na minha barraca. Espero estar viva e fisicamente íntegra ao voltar, com energia suficiente para retomar as aulas de uma Esdi saindo da greve (dedos cruzados) e começar um estágio. Espero que seja tão bom que pareça curto, que eu fique desolada ao acabar, que não possa esperar pelo próximo N.E principalmente, mais uma vez, espero conhecer gente, gente, muita gente, por que essa é a coisa mais divertida e fascinante na vida, as pessoas. Criaturas de todas as partes, com todos os sotaques, tão diferentes e tão parecidas... quero conhecer a voz de certas pessoas que já se tornaram próximas via internet, e descobrir tantas outras tão ou mais fascinantes.Não posso aguentar as horas. Quero que chegue logo, quero que cheguem todos logo, porque lá vai ter gente, gente, muita gente.
Personagens palpáveis e apaixonantes, admitoOntem, graças a mais uma agradável suspresa do ato de zapear na TV a cabo, assisiti ao filme Hora de Voltar (Garden State) de Zach Braff, que também assina o roteiro e o protagoniza. Andrew Largeman é um personagem auto-biográfico, segundo li em algum lugar. Não me interessa verificar se essa iformação procede.
A meu ver, todo e qualquer personagem é uma projeção de seu autor, assim como o antagoniza; é reflexo de suas experiências, refração de pessoas que ele conhece ou idealiza. Assim, em diferentes graus e formas, toda ficção faz referência à realidade, afinal, arte é expressão da subjetividade, e o que é a subjetividade senão a realidade processada pelos olhos e sentimentos de alguém?
O que me interessa é que Andrew Largeman me parece incrivelmente real. Vi o filme uma vez apenas, sem os quinze minutos iniciais (e geralmente essenciais). Não estou em condições de falar muito profundamente sobre nada, mas não posso evitar comentar o quanto esse personagem me comoveu.
Preso a não sei quantos traumas e restrições que lhe foram impostos por seu pai, psiquiatra, por sua mãe, depressiva, pelos acontecimentos crueis, de sua infância, Andrew volta a sua cidade natal e não tem muito a mostrar a seus antigos conhecidos além de um homem contido, tímido, travado e com uma enorme dificuldade de extravasar seus sentimentos. Ele não ri muito alto, não grita, não chora, não faz nada muito especial nunca. Como ele mesmo declara, passou muito tempo de sua vida dopado por medicamentos receitados pelo próprio pai. Mesmo depois de largar os remédios, Andrew parece estar sempre dopado.
Esse homem frágil, talvez fraco, inseguro, incerto, tantas vezes desajeitado, me comoveu muito. Porque me pareceu real. Me pareceu que eu o conhecia, ou que estava conhecendo, que o filme me colocava diante de alguém de verdade. Não digo o mesmo de todos os personagens, muito menos de todas as situações. Gosto da Natalie Portman, mas sua garotinha-maluca-super-espontânea todo mundo está cansado de ver nas telas, mas não encontra nunca por aqui. E os amigos, drogados e sem ambições ou perspectivas, completamente protagonistas, também não me dizem muita coisa além do básico, quer dizer, cumprem seu papel na trama, mas sem nenhum brilhantismo que me tenha tocado. Mas Andrew não.
Andrew me parece um pouco de mim, um pouco de algumas pessoas que conheço, ou mesmo que não parecesse com ninguém, ele me parece verossímil. Porque é espirituoso quando a situação lhe permite, e gagueja quando não pode evitar; raciocina sem a perfeição dos gênios ensaiados, mas com a impulsividade e a insegurança equilibradas de uma pessoa média. Suas atitudes e reações fazem sentido, suas declarações e reflexões são plausíveis. E como projeção nesse mundo não fictício em que somos obrigados a viver, ele cativou meu afeto. Sei que Andrew não é real, mas qual a difereça entre relacionar-se com um personagem cinematográfico ou internético, por exemplo? A resposta? Em uma hora e meia de filme, Andrew me falou muito mais coisas do que vários dos meus contatos do orkut ou do msn. Não foi para mim que ele disse? E não é para o público que fala o roteirista por trás do personagem? Aquilo que alguém me diz em meu scraapbook é, mesmo um recado pra mim?
Personagens assim criam vínculos, do tipo que me fazem sonhar com eles e ter a sensação de que os conheço. De pensar em uma música ou uma piada que o agradaria, de ter vontade de dedicar-lhe um poema, de oferecer-lhe um livro, de querer sair com ele para tomar um chope.
Andrew Largeman poderia ser um amigo que não vejo há algum tempo. Sinto que o conheço, que sei tanto sobre ele e sobre sua vida quanto sobre uns tantos amigos nem tão próximos, nem tão distantes. Ele poderia ser aquele cara que eu conheci numa viagem e que provavelmente nunca reverei, mas de quem me lembro vivamente em certas situações. E ele me toca tanto quanto tantas dessas pessoas, personagens transitórios de minha vida. Gente de quem não me lembro o nome, mas lembro das frases, dos diálogos detalhadamente.
É provável e até urgente que eu reveja o filme. Não sei se continuarei sentindo as mesmas coisas. Talvez eu volte e escreva algo sobre a produção em si, sobre o roteiro comovente ou sobre as frases elaboradas e espirituosas. Talvez eu guarde pra mim as próximas reflexões. Mas o que senti por Andrew acho difícil que mude. Sinto como se o conhecesse e ele é alguém que prezo. e quando se tem apreço por alguém, só o próprio pode fazer algo que mude, coisa que Andrew não poderá fazer.
Do amor de outros temposDepois de ter visto o filme e ter lido o livro mais de uma vez, assisti finalmente à adaptação de Orgulho e Preconceito produzida em 1995 pela BBC. Não pretendo falar aqui sobre a obra de Jane Austen, tampouco sobre suas adaptações, talvez num outro dia. O que me tomou a mente hoje foi uma reflexão sobre a maneira como se vive o amor em diferentes épocas.
De virgens de um não distante século XIX para meninas talvez exageradamente apressadas de hoje. Idem quanto aos rapazes, obviamente. Não é meu intuito redigir um elogio à moral e aos bons costumes, de maneira alguma. Nem seria tola a ponto de me basear em falsos pressupostos históricos e acreditar que o mundo caminhou para uma promiscuidade sem fim. Mas acho que alguma coisa mudou, sim, talvez não nos desejos, mas na velocidade com que são concretizados.
Pelas descrições de Jane Austen, nascida em 1775, que publicou o romance em questão em 1813, podemos concluir que os costumes da época tornavam os envolvimentos amorosos (como todo o resto) muito mais prolongados. Obviamente, a relação de Elizabeth e Mr. Darcy é idealizada e poucas moças tinham o privilégio de se casarem com os homens por quem se apaixonavam, como as irmãs Bennet. Mas não cheguei ainda no ponto que me interessa.
Apaixonados ou não, o fato é que os casais se formavam e levavam séculos até se beijarem. Na verdade, um simples olhar atencioso enrubescia as faces de qualquer moça respeitável e o toque das mãos sem luvas era um contato físico ansiosamente esperado. Um beijo nos lábios, portanto, talvez conquistado apenas no momento do matrimônio, devia ser causa de frisson, pernas bambas e tudo o mais. E aí começa meu questionamento.
O quão delicioso deveria ser um beijo naquela época? Imagine a noite de núpcias, todo o nervosismo e ansiedade. Lógico que a maioria das moças devia casar-se com homens feios, velhos e por quem não tivessem a menor afeição... mas numa época em que as moças já eram pedidas em casamento e não mais obrigadas por seus pais, a situação nem sempre devia ser tão abominável. Tenho até a pretensão de imaginar que um número razoável de jovens deveriam encontrar parceiros interessantes, afinal, em qualquer sociedade sempre há gente atraente e charmosa, não?
E penso em o quanto poderíamos aprender com aquelas moças recatadas, que sentiam a maior das felicidades ao serem cortejadas por rapazes apaixonáveis... Porque hoje tudo tornou-se tão fácil, talvez tão banal, que talvez não demos o devido valor...
Sou, sim, favorável à liberdade no comportamento de todas as criaturas, principalmente no que diz respeito ao amor. Eu mesma sofreria muito se certas atitudes não tivessem espaço em nossa sociedade, e acho que todos temos o direito de fazer com nossos corpos tudo aquilo que desejamos, com quem e quando quisermos. Só chamo a atenção para a irracionalização extrema dos comportamentos. Eu sei que o amor e o sexo de racional não têm nada, mas nós seres humanos, não podemos nos privar da capacidade de pensar... e talvez um pouco mais de ponderação sobre como lidamos com certas situações nos leve a resultados interessantes.
Porque às vezes, depois de uma noite na boate, depois de beijar algumas pessoas desconhecidas, ou depois de muito suor num quarto de motel, nos sentimos descartáveis. Você sabe que sim, eu sei que sim, e não falo só por mim, mas por todas as pessoas que já concordaram comigo... às vezes nos olhamos no espelho do banheiro vomitado ou até num espelho no teto e nos perguntamos o que estamos fazendo. Talvez a culpa seja nossa mesma, e da banalização com que lidamos com nossos instintos. Tudo é fácil demais, rápido demais, tratamos as relações como se o sexo fosse algo simples.
Nada é simples. Envolva ou não amor, sexo é troca, é entregar-se, é o máximo de intimidade física que chegamos com alguém (nisso excluo anomalias sádicas e escatológicas). E é sim, pra se fazer a big deal. E tem tanta coisa que vem antes do sexo, o olhar, o beijo, todas aquelas preliminares... porque nos deixamos esquecer dessas coisas às vezes, porque deixamos de dar-lhes a devida importância?
Me lembro de quando eu tinha 14, 15 anos. Quando cada noite com meu namorado era uma novidade, um passo a frente, e cada novidade era apreciada como o prato principal. Às vezes tenho vontade de voltar a me sentir como nesses dias. Talvez com 15 anos, eu estivesse muito mais próxima das irmãs Bennet, descobrindo aos poucos o que seria o amor, fisicamente. E muito provavelmente surpreendendo-me a cada avanço...
Não prego o recato, nunca levantaria uma bandeira para defender a castidade antes do casamento nem nada parecido. Sou a favor da diversidade e do prazer maior, acho que devemos desfrutar ao máximo de todos os prazeres que a vida nos oferece. Só chamo a atenção para que não banalizemos aquilo que deve ser muito valorizado. Sim, sexo é ótimo, mas não isso desmerece um beijo bem dado. Acho que às vezes um olhar devidamente direcionado, no momento adequado, pode causar mais adrenalina do que uma transa fácil e sem sentido. Sentido não é necessariamente sentimento, que fique claro! Falo de sentido como sinônimo de intensidade, de desejo real, de integração, de clic.
Estar com alguém tem que ser pelo alguém, não pelo estar. O que se faz é muito menos importante do que com quem se faz, como se faz e o que se sente. Alguns beijos no cinema podem ser mais emocionantes do que uma noite de sexo no motel, o que conta é o envolvimento com aquele (ou aquela, ou aqueles, que seja...) com quem se está.
Eu acho, pelo menos. Não sei se um dia vou encontrar um Mr. Darcy. Mas se encontar, quero aproveitar devidamente cada parcela de intimidade antes do clímax. Queimar etapas não me parece mais muito vantajoso.
De uma tarde azul, uma madrugada produtivaO Rio de Janeiro estava lindo hoje, como eu não via há tempos. Não via ou não notava, é possível. Estava muito azul, e o Pão de Açúcar brilhava dourado. Fiquei triste de não ter fotografado.
Eu não tinha hora, não tinha companhia, só a tarde azul e os fantásticos Yamandú Costa e Paaulo Moura no fone de ouvido. Passeei displicentemente pela Cinelândia. Fui até o cinema, mas não entrei.
Fui à biblioteca, Cucurucucu Paloma na clarineta, o céu muito azul e o bondinho deslizando preguiçoso na janela. Estudei, desenhei, me senti leve.
Depois, Libertango. um concerto maravilhoso no centro cultural da justiça federal, eu controlava meus pés para não sair dançando. Piazzola comove como poucos e é muito satisfatório vê-lo ser tão bem relido e interpretado.
Saí sem cumprimentar todos os músicos porque tinha hora. Peguei um ônibus que passou pela praia. A lua estava inacreditável. novamente, faltou fotografar. Era uma bola imensa, amarela, num céu muito preto.
Parecia que a qualquer momento a coisa mais fantástica da minha vida iria acontecer. Eu não me espantaria de tropeçar no homem da minha vida ou num bilhete premiado.
Nada de especial aconteceu. Vi um filme médio, jantei e vim para casa. Mas foi um dia fantástico, cinematográfico. Especial a ponto de me fazer ficar acordada até as seis e meia da manhã, depois sentar e criar um blog.
Não sei no que vai dar isso. Talvez eu só queira escrever em dias inspiradores como este que passou. Talvez eu me apegue a esse espaço e passe pra cá as prolixidades das minhas madrugadas. Não sei.
Enchi meus armários de pastas, de cadernos, textos e mais textos de quando o sono não quer se render à minha vontade de dormir. É possível que eu transfira para este blog alguns desses anseios noturnos.
Apaguei a luz porque amanheceu. Não fiz jus ao dia incrível que presenciei hoje. Mais do que presenciei, vivenciei, aproveitei, experimentei... agora chega. Sem fotografias, só minha memória incrédula. Me pergunto sobre as maravilhas que poderão vir nas próximas tardes.
Queria que fosse sempre junho.