Moça de colar de fita
Acabara de chegar em casa. Sentia-se frustrada e cansada. Olhava-se no espelho no banheiro amarelado. Sentia-se ridícula. Ridículos os olhos pintados escuros, os saltos e a bolsa de vinil, ridículos os brindo compridos e o cabelo afetado, ridícula a hora. O relógio ria dela, não era hora, não era hora. Todos os solteiros ainda se esbarrando pela madrugada e os casais saindo cedo para rolar entre seus lençóis. Em ambas as opções, suor, muito suor e pouco fôlego. E ela diante de um espelho, a boca seca, os olhos apertados.
Sentia alguma raiva, de muitas coisas. Dos olhos verdes zombeteiros, dos pés leves, do estar sonso. Raiva das mãos que entrelaçavam cinturas e as largavam com a mesma naturalidade com que roubavam-se beijos. Raiva dos momentos de antes estampados nas paredes sujas e dos olhares impressos nas escadas, das lembranças ricocheteando em seu cérebro.
Sentia-se cansada e frustrada. A hora inadequada, os casais em seus quartos, as pistas lotadas, as bocas ávidas do lado de fora. Sentada, diante de um derradeiro copo, sentia as pernas doloridas e deixava o olhar vagar perdido. Lia sobre anseios alheiros, refletia sobre o ausente.
Imaginava uma vida que pudera ser sua, pessoas outras, noites mais calmas, roupas mais leves, dias mais azuis e cheios de suavidades. Imaginava os dias que recusara e as companhias de que abdicara. Dias distantes no tempo, ocupando-lhe diariamente a memória e os lembretes de seu descaso.
Imaginava também a vida pela qual nunca optara nem nunca realmente se esforçara para conquistar. Uma vida sem horas e cheia de minutos lentos, cheia de palavras enroscando-se em seus braços e fazendo crescer macios os seus cabelos. Palavras que rodeariam sua cama em conquistariam as ruas debaixo de seu prédio até às mais largas avenidas. Cheia de melodias também, mas outras.
Sentia-se frustrada, cansada e ridícula. Perguntava-se por quanto tempo.
Acabara de chegar em casa. Sentia-se frustrada e cansada. Olhava-se no espelho no banheiro amarelado. Sentia-se ridícula. Ridículos os olhos pintados escuros, os saltos e a bolsa de vinil, ridículos os brindo compridos e o cabelo afetado, ridícula a hora. O relógio ria dela, não era hora, não era hora. Todos os solteiros ainda se esbarrando pela madrugada e os casais saindo cedo para rolar entre seus lençóis. Em ambas as opções, suor, muito suor e pouco fôlego. E ela diante de um espelho, a boca seca, os olhos apertados.
Sentia alguma raiva, de muitas coisas. Dos olhos verdes zombeteiros, dos pés leves, do estar sonso. Raiva das mãos que entrelaçavam cinturas e as largavam com a mesma naturalidade com que roubavam-se beijos. Raiva dos momentos de antes estampados nas paredes sujas e dos olhares impressos nas escadas, das lembranças ricocheteando em seu cérebro.
Sentia-se cansada e frustrada. A hora inadequada, os casais em seus quartos, as pistas lotadas, as bocas ávidas do lado de fora. Sentada, diante de um derradeiro copo, sentia as pernas doloridas e deixava o olhar vagar perdido. Lia sobre anseios alheiros, refletia sobre o ausente.
Imaginava uma vida que pudera ser sua, pessoas outras, noites mais calmas, roupas mais leves, dias mais azuis e cheios de suavidades. Imaginava os dias que recusara e as companhias de que abdicara. Dias distantes no tempo, ocupando-lhe diariamente a memória e os lembretes de seu descaso.
Imaginava também a vida pela qual nunca optara nem nunca realmente se esforçara para conquistar. Uma vida sem horas e cheia de minutos lentos, cheia de palavras enroscando-se em seus braços e fazendo crescer macios os seus cabelos. Palavras que rodeariam sua cama em conquistariam as ruas debaixo de seu prédio até às mais largas avenidas. Cheia de melodias também, mas outras.
Sentia-se frustrada, cansada e ridícula. Perguntava-se por quanto tempo.

0 Comments:
Postar um comentário
<< Home